sexta-feira, 5 de março de 2010

Um pouco sobre a língua chinesa...

Foto: Chinês praticando caligrafia no Parque Yuyuantan, em Beijing.
Fonte: Diogo Farias.

A língua chinesa pertence à família Sino-Tibetana, que deu origem a diversas línguas no Tibet, Tailândia, Laos, Myanmar, China e talvez no Vietnã. Dentro deste grupo o chinês é o que possui a maior quantidade de subdivisões. Com a expansão da civilização chinesa, sua língua deu origem a diversos dialetos não compreensíveis entre si. A língua oficial da burocracia chinesa, conhecida por nós como mandarim (hanyu, putonghua, guanhua ou huayu), é a língua materna mais falada do mundo. Diversos dialetos do mandarim são falados em todo Norte e na maior parte do Centro e Sudoeste da China. Ao longo da costa de Shanghai até a fronteira com o Vietnã, há diversos tipos de "línguas chinesas" geralmente chamadas de "dialetos chineses", todos muitos diferentes do mandarim. Como por exemplo, o "dialeto" Wu da região de Shanghai; o "dialeto" Min do Fujian ("fujianês" e o "dialeto" de Amoy); o Hakka em diversas regiões e finalmente o cantonês. Convém informar, que não trataremos neste post das línguas não pertencentes a família Sino-Tibetana, mas que são faladas pelas minorias étnicas da China.



Com esta variedade de línguas e dialetos é necessário compreender a importância que a escrita chinesa desempenhou para esta civilização. Durante o processo de formação das estruturas de poder na China, o governante, além da liderança em assuntos rituais e da guerra, teria o monopólio sobre a escrita dos ossos oraculares e do registro histórico. Alguns dos símbolos usados desde o período Shang são muito parecidos com os caracteres usados atualmente. Isto faz com que os chineses sintam uma identidade cultural e racial com os antigos habitantes de suas terras. A idéia de continuidade em relação aos Shang, é muito maior do que os Ocidentais sentem em relação ao Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma. O sistema de escrita chinesa encontrado nos ossos oraculares de Anyang passaram por um longo desenvolvimento. Antecedentes desta escrita parecem ter surgido no quinto milênio antes de Cristo, até o momento foram identificados mais de 2000 caracteres.



Uma das características das línguas da família Sino-Tibetana é o grande percentual de palavras monossilábicas. Isso vale mais para o chinês antigo do que para o moderno (que é mais bissilábico). Também há a ausência de inflexões, como plural, diferentes tempos verbais e suas conjugações. No chinês existem tons para diferenciar palavras diferentes, formadas por uma mesma sílaba. O mandarim possui quatro tons, mais um tom nulo. Assim palavras monossilábicas diferem-se umas das outras através do tom e de sua escrita.



O sistema de escrita chinês é certamente complicado se comparado com o sistema ocidental, um chinês considerado alfabetizado consegue ler entre 6000 e 7000 caracteres. Isso comparado com o nosso alfabeto parece ser algo surreal. A ênfase na memorização para aprender todos estes caracteres, influenciou a educação chinesa, baseada na capacidade de memorizar dados. Outra questão é que no passado a complexidade do aprendizado da escrita, restringiu ainda mais o tamanho da elite letrada.



Por outro lado o sistema de escrita chinesa, através da complexidade dos caracteres e suas qualidades gráficas, possui valores estéticos, que vão muito além do seu valor linguístico. A caligrafia é conhecida como uma importante forma de arte no Extremo Oriente e ancestral à todas as formas de artes gráficas. Os caracteres chineses carregam consigo um peso cultural muito maior do que as palavras orais que eles representam. Na cultura chinesa a palavra escrita parece ter muito mais valor do que a fala. Toda sua história é representada por famosos documentos (memoriais, poemas, ensaios, etc.), em contrapartida há poucos discursos famosos.


Textos antigos podem ter valor quase que sagrado, isso pode explicar a importância do livro e do estudo formal entre os povos do Extremo Oriente. Outra qualidade da escrita chinesa é que um mesmo texto pode ser lido por pessoas que falam "dialetos" diferentes. Isto iniciou quando Qin Shi Huangdi (221-210 a.C.)* unificou o sistema de escrita chinesa, para que todos os documentos imperiais fossem compreendidos em qualquer província do Império, mesmo com a diversidade de "dialetos".


Hoje o sistema de escrita usado na República Popular da China (RPC) é o chinês simplificado. Apesar da maioria dos caracteres simplificados terem sidos criados nas décadas de 1950 e 1960, o processo de simplificação é anterior à 1949. Alguns caracteres simplificados remontam ao período Qin (221-206 a.C.). Um dos primeiros personagens a propor a simplificação total dos caracteres foi Lufei Kui, sua intenção era facilitar a aprendizagem da escrita. A primeira proposta de simplificação dos caracteres chineses foi feita através de dois documentos: um em 1956 e outro em 1964. Entretanto esta primeira proposta teve sua imagem vinculada a Revolução Cultural. Uma nova proposta de simplificação dos caracteres foi feita em 1977. Apenas em 1986 as autoridades entraram em consenso, sendo que a reforma era quase idêntica a proposta de 1964, exceto por apenas 6 mudanças, que posteriormente não foram reconhecidas oficialmente. Em 2009, realizou-se na China uma revisão dos caracteres simplificados, cerca de 8000 caracteres foram avaliados, entretanto nenhuma nova simplificação foi incluída.

Os caracteres simplificados são o padrão para a escrita na RPC, entretanto é permitido o uso de caracteres tradicionais em algumas cerimônias e expressões culturais, como artigos de decoração e livros clássicos. O Kuomintang ainda utiliza os caracteres tradicionais em Taiwan, porém não há proibição para importação de livros e artigos em chinês simplificado.

* esta data compreende ao período em que Qin Shi Huangdi foi imperador da China.

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