terça-feira, 23 de março de 2010

O dualismo amoroso

"Os taoístas relatam que, no grandioso começo do sem começo, Espírito e Matéria travavam um combate mortal. Finalmente, o Imperador Amarelo, o sol celeste, triunfou sobre Shuhyung, o demônio da escuridão e da terra. O titã, em sua agonia mortal, bateu a cabeça contra a abóbada solar e estilhaçou a redoma de jade azul. As estrelas perderam seus ninhos, a lua vagou sem rumo pelos tumultuados abismos da noite. Em desespero, o Imperador Amarelo procurou por toda parte o restaurador dos céus. Sua busca não foi em vão. Do mar oriental, ergueu-se uma rainha, a divina Niuka, ostentando uma coroa de chifres e cauda de dragão, resplandecente em sua armadura de fogo. Ela fundiu o arco-íris de cinco cores em seu caldeirão mágico e reconstruiu o céu chinês. Mas dizem também que Niuka se esqueceu de preencher duas pequenas fissuras no firmamento azul. E assim teve início o dualismo amoroso - duas almas que vagam pelo espaço sem descanso até se unirem para completar o universo. Todos têm de reconstruir seu próprio céu de esperança e paz."

Fonte: OKAKURA, Kakuzo, O Livro do Chá (São Paulo: Estação Liberdade, 2008).

Nenhum comentário:

Postar um comentário