segunda-feira, 29 de março de 2010

O Império Otomano no imaginário europeu







Imagem 1: Tela de Paul Trouillebert (1874) retratando uma serva do harém otomano


A Turquia é uma economia dinâmica e abriga vários dos homens mais ricos da Europa. Istambul é uma cidade cosmopolita que além da sua beleza fantástica, possui habitantes extremamente acolhedores e divertidos. Suas avenidas lembram São Paulo, mas um leve desvio de olhar em direção ao Bósforo ou para qualquer um dos seus monumentos, fazem-nos perceber que estamos em um lugar único.

Sua entrada para a UE foi tratada com cautela por boa parte da população europeia. Isto devia-se à desconfiança em relação à economia turca, ao provável fluxo de milhares de imigrantes turcos para a Europa ocidental, e pela perda do protagonismo político dos seculares. Hoje, a crise do Euro, o aquecimento da economia turca e seu crescente interesse no Oriente Médio e no norte da África, fizeram com que as prioridades políticas e econômicas do país fossem alteradas.

O receio de alguns ocidentais em relação à Turquia tem raízes no imaginário europeu em relação aos otomanos. Esta imagem foi formada ao longo dos séculos de contato e de convivência entre as duas partes, oscilando de acordo com os períodos de protagonismo ou declínio otomano.


Imagem 2: O Império Otomano (1359-1856)
Fonte: http://www.kaankahraman.com/turkiye/Ottoman_Empire_Map_1359-1856.jpg



Os otomanos eram aqueles que estavam mais próximos dos Estados europeus do ocidente, esta proximidade teve um profundo efeito na formação da identidade tanto dos otomanos como dos europeus, do mesmo modo que estruturou um complexo processo de atração e de afastamento. "A autoconsciência de um povo, da sua diferença e autonomia, das suas características particulares e singulares, nasce muitas vezes da comparação com o "outro" como forma de se autodefinir em termos daquilo que é, ou não é". Nos seus confrontos com Bizâncio, com os Estados dos Balcãs, e com a Europa ocidental e oriental, os otomanos enfatizaram por vezes sua identidade como guerreiros muçulmanos da fé. Isso não impediu que seus líderes admirassem e recorressem à soldados, artistas e técnicos bizantinos, búlgaros, sérvios e europeus ocidentais.

Para os europeus, os otomanos foram um meio fundamental de autodefinição da cultura europeia enquanto tal. Houve momentos em que serviram como modelo de qualidades que os europeus desejavam ter. Maquiavel e outros intelectuais europeus, como Bodin e Montesquieu, enalteceram a integridade, a disciplina e a obediência dos exércitos e dos governantes otomanos. Numa época em que a crítica direta ao rei podia ser perigosa, utilizavam os otomanos como exemplo inspirador para melhorar a conduta dos monarcas, exércitos e estadistas europeus. Entretanto, quando os europeus procuravam se definir, caracterizaram-se segundo aquilo que não eram.


Em algumas oportunidades os europeus fizeram dos otomanos o repositório do mal; identificaram as características que queriam possuir, atribuindo as contrárias ao seu inimigo. Para os europeus, os otomanos ora eram terríveis, selvagens e "vís", ora eram tarados sexuais, devassos e dissolutos. Segundo Quataert "até mesmo no século XIX, a imaginação europeia rotulava o "Oriente Otomano" como antro de degenerada perdição dos prazeres pretensiosamente ausentes ou proibidos no salutar e civilizado Ocidente."


Imagem 3: Miniatura Otomana "Cerco de Viena"
Fonte: http://yrakha.wordpress.com/2009/01/08/strangers-in-the-house/




A maioria dos europeus ocidentais e dos americanos talvez não reconhecem que devem aos otomanos, por exemplo, o apreciado café e a tulipa, ou a vacina da varíola que protege a nossa saúde. Desde seus primórdios, o Império Otomano influenciou o cotidiano, a religião e a política daquilo que a Europa veio a ser.

Donald Quataert,  um dos principais estudiosos do Império Otomano, ficou perplexo quando esteve na Aústria para visitar uma exposição que festejava o tricentésimo aniversário do Segundo Cerco de Viena (1683). O que assustou o historiador foi a ideia amplamente difundida entre crianças e professores (bem como os europeus em geral) de que a data marcaria a ocasião em que todos foram salvos da conquista otomana. Mas a verdade era que Viena não seria arrasada por uma força destruidora muçulmana, mas sim conquistada e incorporada à um Império multiétinico e multireligioso. Na ocasião do Cerco de Viena, o poder imperial otomano apoiava-se em uma mescla de povos que seria a causa dos seus quase seis séculos de coesão interna.


O Império Otomano teve um importante papel nos conflitos religiosos europeus. No período da Reforma, os otomanos foram considerados o verdadeiro castigo de Deus na Terra. Os anabatistas, reformadores radicais, sustentavam que os otomanos eram um sinal de que Deus estava prestes a conquistar o mundo, após a vinda do Anticristo. Martinho Lutero, por sua vez, escreveu que os otomanos eram um flagelo de Deus, um instrumento da ira divina pelo papado corrupto. Os católicos consideravam que os "turcos" eram a punição de Deus pelo êxito de Lutero e seus seguidores.


Os otomanos estão presentes na cultura popular europeia. No século XVII, a temática da literatura ficcional francesa incluía os monarcas otomanos - como por exemplo, a história do cativeiro do sultão Beyazit I (1389-1402) e do seu captor Timur (Tamerlão), publicada em 1648. Porém, a maioria das narrativas relatava a crueldade dos turcos, tal como a de Suleyman, o Magnífico, em relação ao seu favorito, o grão-vizir Ibrahim. Numa peça francesa de 1612, Mehmet, o Conquistador, que fora um príncipe renascentista cosmopolita, requintado e conhecedor de várias línguas, transformou-se em um brutal e cruel tirano cuja mãe era retratada bebendo o sangue de uma vítima. Em outros relatos igualmente bizarros representavam-se os soldados otomanos oferecendo sacrifícios à Marte, o deus romano da guerra. Todavia, o afastamento da ameaça otomana após o fracasso de Viena em 1683, alterou essa imagem.


Os habitantes de toda Europa começaram a copiar aberta e intensamente seus vizinhos. Nesse período, os otomanos contribuíram notavelmente no âmbito da música clássica europeia, introduzindo os instrumentos de percussão nas orquestras modernas. De 1720 até meados do século XIX, a chamada "música turca" tornou-se a grande voga na Europa. Esta música surgira com a Banda dos Janízaros, que acompanhava os exércitos otomanos a fim de incitar as tropas e inspirar temor aos inimigos. O rei polaco Augusto II (1697-1733) admirava tanto a música janízara que um sultão o presenteou com uma banda. Em 1727, a imperatriz Ana da Rússia decidiu que também necessitava de uma banda, mandando vir de Istambul um grupo idêntico. Em 1782, Londres obteve a sua banda mas neste caso os tambores, as pandeiretas e os címbalos eram tocados por africanos, talvez para criar uma atmosfera de exotismo. Um resquício deste entusiasmo pelas bandas janízaras é a tradição de os tamboreiros-mor lançarem ao ar as suas baquetas. Nos EUA, esta prática evoluiu para o bastão das majorettes.


Imagem 4: Apresentação da banda dos Janízaros em frente ao Dolmabahçe Sarayı (Istanbul)
Fonte: Diogo Farias



A popularidade dos sons janízaros deixou de se confinar à banda, entrando na corrente dominante daquilo a que hoje chamamos música ocidental. A influência janízara pode ser sentida na Nona Sinfonia de Beethoven, na Quarta Sinfonia de Brahms, na Sinfonia Marcial de Haydn; na abertura do Guilherme Tell de Rossini, ou na marcha de Wagner, Tannhäuser. A Sonata K. 331 para piano em lá maior, de Mozart, contém uma rondo alla turca, um tema que também influenciou o jazz americano. Em 1686, uma ópera produzida em Hamburgo, contava o destino do grão-vizir Kara Mustafa Paşa após o cerco de Viena. A ópera de Händel, Tamerlano (1724), relata a derrota do sultão Beyazit I para Timur, o Coxo.

No século XVIII, a "moda turca" também influenciava a Europa ocidental. Surgiam por toda a parte pseudo-sultões e sultanas. Os cafés ao estilo otomano enchiam-se de frequentadores vestidos à maneira turca, estes fumavam cachimbos d'água e comiam doces "turcos".

Imagem 5: Tela de Jean-León Gérôme (1824-1904)
Fonte: http://rubell.wordpress.com/2009/02/13/my-problematical-artifact/



No século XIX, esta "turcomania" foi lentamente substituída. Manteve-se a temática comum da crueldade, da intriga, do ciúme e da barbárie. Paralelamente à velha imagem desumana surgia a do turco apaixonado ou histriônico. A figura do turco tolo já se tornara corriqueira. No século XIX, o turco libidinoso e de orgãos sexuais desproporcionados tornara-se uma característica importante da literatura pornográfica vitoriana. Muitos europeus, como Lord Byron e o romancista Pierre Loti, passaram a considerar o Império Otomano a terra dos sonhos, onde os devaneios sexuais ou de outra natureza podiam tornar-se realidade. Procurava-se no Oriente idealizado um refúgio para o tédio e para a monotonia da vida industrial moderna, como pode ser conferido no poema "The Island" de Lord Byron, no final deste post.

Graças aos artefatos otomanos exibidos em várias feiras mundiais do século XIX, incluindo a Exposição Centenária Americana de 1876, o "recanto turco" tornou-se um lugar-comum nos lares europeus. Nas salas de estar das classes mais abastadas havia cadeirões almofadados ornamentados com borlas e longas franjas, junto aos quais se viam bandejas de cobre e os sempre presentes tapetes "orientais".

Os otomanos enriqueceram o imaginário europeu. Em sua fase de retração militar, o anticristo e inimigo da Reforma deu lugar a formas mais inofensivas. Até mesmo nos nossos dias, embora o Império Otomano tenha desaparecido, as suas heranças permanecem no mundo cultural europeu e nas suas ramificações.






Imagem 6: jovem turca num bar nas mediações da Istiklâl Caddesi
Fonte: Diogo Farias

Imagem 7: grupo de mulheres muçulmanas saindo da Mesquita Suleymaniye (Suleymaniye Camii)
Fonte: Diogo Farias


Podemos discutir como a visão "ocidental" em relação aos "turcos" e aos povos árabes variou de acordo com as circunstâncias de cada época. A imagem romântica vulgarizou o "Oriente" como uma terra onde era possível realizar todos os prazeres da imaginação humana. Essa visão do mundo "oriental" popularizou a imagem da odalisca como estereótipo da mulher muçulmana até pouco tempo atrás, enquanto após o atentado ao World Trade Center fomos bombardeados por imagens de muçulmanas usando o hijab (véu), chador, niqab e a burqa. Na prática, ambas as visões falham ao caracterizar a sociedade islâmica e a condição da mulher no Islã.

É perceptível as diferenças de conduta em cada país ou até mesmo em cada cidade; a Turquia e o Líbano são exemplos de sociedades mais abertas, enquanto o Iêmen e o Afeganistão são mais rígidos. Istanbul é um exemplo da diversidade no Islã, nos bairros históricos, como Eminönü, é comum encontrar as mulheres usando o hijab e até o chador, em contrapartida, é frequente ver turcos tomando cerveja EFE (a principal marca de cerveja da Turquia) nos diversos bares das ruas adjacentes à Istiklâl Caddesi, ou jovens "ficando" em clubes noturnos como o Reina. Esta diversidade é um legado do histórico cosmopolita da cidade, da visão heterodoxa do Islã comum aos povos nômades e da política secular nacionalista de Kemal Atatürk. Se ao longo dos séculos formou-se um imaginário que não traduz corretamente a sociedade turca, cabe a nós historiadores reconhecermos os defeitos desta visão, refletir sobre o passado e compreender os dilemas atuais.







The Island
Lord Byron

But here the herald of the self-same mouth [60]
Came breathing o’er the aromatic south,
Not like a “bed of violets” on the gale,
But such as wafts its cloud o’er grog or ale,
Borne from a short frail pipe, which yet had blown
Its gentle odours over either zone,
And, puffed where’er winds rise or waters roll,
Had wafted smoke from Portsmouth to the Pole,
Opposed its vapour as the lightning dashed,
And reeked, ‘midst mountain-billows, unabashed,
To AEolus a constant sacrifice,
Through every change of all the varying skies.
And what was he who bore it?–I may err,
But deem him sailor or philosopher.[61]
Sublime Tobacco! which from East to West
Cheers the tar’s labour or the Turkman’s rest;
Which on the Moslem’s ottoman divides
His hours, and rivals opium and his brides;
Magnificent in Stamboul, but less grand,
Though not less loved, in Wapping or the Strand;
Divine in hookas, glorious in a pipe,
When tipped with amber, mellow, rich, and ripe;
Like other charmers, wooing the caress,
More dazzlingly when daring in full dress;
Yet thy true lovers more admire by far
Thy naked beauties–Give me a cigar!

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Google e o autoritarismo chinês



Ontem, o site google.cn deixou de existir e seus usuários passaram a ser redirecionados para o google.com.hk, com sede em Hong Kong. Apesar da nova roupagem, as restrições de acesso às informações continuaram a ser as mesmas. Essas restrições se aplicam a outros sites de busca, mas é importante deixar claro que a busca e o acesso à conteúdos proibidos pelo PCC é possível através de ferramentas que "driblam" a censura. O fim do google.cn é extremamente prejudicial para as relações públicas chinesas e o futuro desta companhia na China é incerto.

Muitas pessoas confundem que o autoritarismo, a censura e as restrições a informação foram implantadas pelo Partido Comunista Chinês, porém a China tem uma longa tradição neste campo, que remonta as suas matrizes civilizacionais. Todo tipo de influência estrangeira que chegou a China passa por um processo de "sinenização", ou seja, uma adequação ao pensamento e as estruturas sociais da China. O Budismo, o Islã, o Cristianismo e também o Marxismo passaram por este processo. Desta forma o Marxismo encontrou na China uma longa tradição autoritária, compatível com o autoritarismo existente em sua própria doutrina. Basta ver o caso de Taiwan e o Kuomintang para perceber como o Estado forte e centralizado é uma característica da cultura chinesa.

As origens do autoritarismo:

O modelo do absolutismo chinês pode ser identificado no período Shang, entre as principais fontes do poder imperial destacam-se:
  1. o domínio da elite sobre as técnicas da metalurgia, para construção de armas e carroças, ou seja, o monopólio da violência;
  2. o modelo da família chinesa, uma espécie de Estado em miniatura. A devoção e a obediência dos filhos, propiciaram a formação da lealdade para com o governante e a obediência para com a autoridade constituída no Estado ;
  3. a necessidade dos chineses defenderem o seu território de razias realizadas por tribos nômades, sendo a Grande Muralha o seu exemplo máximo- vale lembrar que a primeira Grande Muralha foi construída durante a dinastia Qin (221-206 a.C.), aproveitando as muralhas já existentes;
  4. a organização do trabalho cooperativo para manter o Rio Amarelo (Huang He) em seu leito e promover a irrigação das terras férteis. O Mito de Yu conta que, o fundador da dinastia Xia, controlou as enchentes do Rio amarelo e liderou o aparecimento do primeiro estado centralizado da história da China.

Com a conquista da dinastia Shang pelos Zhou, o Estado chinês finalmente emergiu.Os Zhou criaram uma nova base de legitimidade por meio da adesão à teoria do Mandato Celestial.Segundo Fairbanks, "enquanto os governantes Shang veneravam e procuraram a orientação de seus ancestrais, os Zhou reinvidicaram que sua permissão para governar vinha de uma deidade mais ampla, impessoal, o Céu (tian), cujo mandato (tianming) poderia ser conferido a qualquer família moralmente capaz de assumir a responsabilidade. Essa doutrina asseverava que o governante devia prestar contas a uma força moral suprema que guia a comunidade humana. A teoria chinesa do Mandato Celestial estabelecia critérios morais para a manutenção do poder."

Durante o período Primavera e Outono (722-481 a.C.) o poder dos Zhou foi minado pelo crescimento de diversos estados familiares aristocráticos fora do seu controle central. Esses estados formavam alianças e ligas e travavam um conflito diplomático militar, um absorvendo o outro. No Período dos Reinos Combatentes (403-221 a.C.), existiam somente sete grandes estados. Segundo Mark Edward Lewis, a autoridade do rei de cada estado baseava-se em "violência ritual direcionada na forma de sacrifícios, guerras e caça."

A queima dos livros:

No final do Período dos Reinos Combatentes, os governantes do Reino de Qin recrutavam conselheiros, estrategistas e diplomatas de outros estados rivais. Em 221 a.C., os Qin conquistaram seus adversários, reunificando a China. O Reino de Qin foi influenciado por letrados legalistas, que defendiam que um governo forte não dependia somente das qualidades morais do governante e de seus funcionários, mas no estabelecimento de estruturas institucionais efetivas. Estes pensadores não tinham interesse pela cosmologia e pela ética, concentravam-se em propostas para soluções políticas para a desordem e técnicas para acumulação de poder. Para os legalistas as leis eram decretadas para agir de acordo aos interesses do Estado.

Imagem: Estátua de Qin Shi Huangdi em Xi`an (China)
Fonte: Diogo Farias

O sistema legalista Qin tinha uma terrível eficácia, toda sua população era dividida em grupos de cinco ou dez famílias, onde cada membro era responsável pelo comportamento do outro. O crime cometido por uma pessoa levava a condenação de todo o grupo e suas punições eram severas: decapitações, morte na fogueira, desmembramento do corpo com o auxílio de cavalos e a castração. Este é um exemplo clássico do controle da sociedade pelo Estado, demonstrando que o comportamento de uma pessoa pode afetar todo um grupo. O Reino de Qin concentrava-se nas leis executivas para apoiar a agricultura e fortalecer o Estado em vez da família, assim os laços e lealdades intergrupais eram deteriorados em prol da obediência ao Estado. É importante ressaltar, que o legalismo perdeu seu espaço de ideologia oficial do Estado para o confucionismo, durante a dinastia Han.

Muitas das ações de Qin Shi Huangdi (247-210 a.C.) foram inspiradas pelo seu primeiro ministro Li Si (280-208 a.C.), que persuadiu o Imperador a abolir o sistema feudal, que segundo ele era a maior fonte de corrupção. O fim da aristocracia feudal provocou um famoso episódio. Segundo Sterling Seagrave em um banquete em 213 a.C., "a elite letrada queria desejar ao Primeiro Imperador "uma vida longa", mas um confuciano afirmou que o novo Império não teria sucesso se o Imperador falhasse na restauração dos privilégios hereditários das famílias nobres." Esta atitude irritou Li Si, que acusou os letrados de "estudar o passado para criticar o presente", com o objetivo de agitar o povo contra o Império. Para eliminar este tipo de provocação, Lisi ordenou que todos os livros deveriam ser queimados, exceto os pertencentes à biblioteca real. Todos que não cumprissem a medida seriam presos, tatuados na face como criminosos e pagariam suas penas através de trabalhos forçados. Toda pessoa que fosse pega lendo um livro proibido seria decapitada junto com seus familiares.

Esta não foi a única vez que livros foram banidos, queimados ou re-escritos. Muitos Imperadores perceberam que livros poderiam ser re-escritos para se adequarem ao seu regime político. Os alvos não eram os livros, mas sim os letrados que os utilizavam para criticar o regime. A proibição dos livros foi responsável pela fama de tirano que até hoje ostenta Qin Shi Huangdi, esta imagem foi difundida por Sima Qian (135 ou 145-86 d.C.), um historiador que trabalhou a serviço da Dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.). O relato de Sima Qian demonstrou a importância do controle do material escrito e da história para a legitimação do Mandato Celeste dos Han, justificado através do governo tirânico e perverso de Qin Shi Huangdi. Devido ao seu excesso de violência e autoritarismo a dinastia Qin não teve uma vida longa, foram apenas 15 anos, até uma grande revolta popular destituí-los do poder.

A atitude de Li Si e de Qin Shi Huangdi influênciou o pensamento político chinês, trata-se de uma comprovação de que o autoritarismo e o controle sobre a população estão enraizados na cultura política chinesa. Houveram outros importantes casos de autoritarismo e controle de informação na história da China, posteriormente esperamos escrever sobre eles, entre os mais famosos estão:
  1. o governo de Hongwu (1328-1398);
  2. a proibição de viagens, contatos e comércio com o exterior, iniciado durante a dinastia Ming;
  3. o Censorato, instituição criada pelos Ming, para controlar as atividades de seus funcionários públicos;
  4. as leis de controle da população han da Dinastia Qing (1644-1911).

O caso do google.cn é mais uma demonstração de autoritarismo da elite do partido comunista, que segue uma longa tradição de controle da informação acessível aos seus cidadãos. Em curto prazo, este caso não afetará o poder do PCC na China, mas esta é uma prova de que suas contradições são perigosas para legitimação do partido.


terça-feira, 23 de março de 2010

O dualismo amoroso

"Os taoístas relatam que, no grandioso começo do sem começo, Espírito e Matéria travavam um combate mortal. Finalmente, o Imperador Amarelo, o sol celeste, triunfou sobre Shuhyung, o demônio da escuridão e da terra. O titã, em sua agonia mortal, bateu a cabeça contra a abóbada solar e estilhaçou a redoma de jade azul. As estrelas perderam seus ninhos, a lua vagou sem rumo pelos tumultuados abismos da noite. Em desespero, o Imperador Amarelo procurou por toda parte o restaurador dos céus. Sua busca não foi em vão. Do mar oriental, ergueu-se uma rainha, a divina Niuka, ostentando uma coroa de chifres e cauda de dragão, resplandecente em sua armadura de fogo. Ela fundiu o arco-íris de cinco cores em seu caldeirão mágico e reconstruiu o céu chinês. Mas dizem também que Niuka se esqueceu de preencher duas pequenas fissuras no firmamento azul. E assim teve início o dualismo amoroso - duas almas que vagam pelo espaço sem descanso até se unirem para completar o universo. Todos têm de reconstruir seu próprio céu de esperança e paz."

Fonte: OKAKURA, Kakuzo, O Livro do Chá (São Paulo: Estação Liberdade, 2008).

terça-feira, 16 de março de 2010

Guerra ao Terror



Decidimos discutir sobre o filme Guerra ao Terror (Kathryn Bigelow, The Hurt Locker, 2008), apesar do atraso. Como quase todos devem saber, este filme relata os desafios diários vividos por um esquadrão antibombas americano em Bagdá. É impressionante como a camera de Bigelow consegue nos inserir dentro da atmosfera do conflito, através de sua condução em tom documental. Simplesmente você fica atónito, esperando pelo desfecho de cada cena.O grande eixo condutor do filme é William James (Jeremy Renner), um sargento substituto que demonstra um imenso prazer pelo combate e que coleciona as bombas que ele desermou. Mas o sargento também possui seu lado humano, que aparece nos momentos de descontração dentro do quartel e em sua relação com o menino iraquiano vendedor de DVDs piratas.

Trata-se de um filme extremamente bem feito, impecável nos aspectos técnicos. A diretora abordou o conflito de forma viceral, com o objetivo de oferecer uma experiência extremamente realista. Mas talvez este não seja o filme definitivo sobre a ocupação americana do Iraque. Sente-se falta do drama dos mais de cem mil iraquianos mortos (a grande maioria civis), cujos diálogos em árabe nem chegam a ser legendados.

Bigelow centra-se demais no drama vivido pelos soldados, deixando em segundo plano a situação do povo que sofreu com o regime de Saddam Hussein e com a guerra atual. Apesar de sua seriedade, o filme está distante de clássicos como Glória feita de sangue (Stanley Kubrick, Paths of Glory, 1957), Platoon (Oliver Stone, Platoon, 1986) e Apocalipse Now (Francis Ford Coppola, Apocalipse Now, 1979), onde o primeiro discute crimes de guerra cometidos pela aliança vencedora da Primeira Guerra Mundial. Platoon mostra a total alienação do soldado americano e a extrema violência decorrente desta. Por último, Apocalipse Now aborda a guerra como algo cruel, a ocupação francesa (num dos melhores diálogos da história do cinema, pelo menos para este blogueiro), o Mito e a natureza humana.

Apesar disto Guerra ao Terror tem o seu lugar marcado na história do cinema, pois é um filme sério, de cenas marcantes. Todo clássico tem que ter isso: momentos que não saem de nossas memórias, e talvez a cena em que o sargento William James se vê cercado por diversas bombas que devem ser desarmadas, seja a mais emblemática do filme.


Guerra ao Terror tem inúmeras qualidades, principalmente ao trabalhar com o clima de tensão psicológica vivido por pessoas inseridas num conflito bélico e suas diferentes reações. Mas é sutil em relação a guerra e a ocupação americana, aliás não foi surpresa nenhuma a Academia tê-lo premiado. Temos que lembrar que com Barack Obama como presidente, a opinião pública mundial está mais simpática aos americanos e seu governo, do que no passado recente. Só para ilustrar esse clima favorável, está sendo produzida uma versão cinematográfica do Capitão América, algo difícil de se imaginar enquanto Bush ocupava o cargo.

Apesar de seu clima mais ameno, Guerra ao Terror não chega a ser omisso e abre espaço para discussões sobre a ocupação americana e sua política internacional. É importante que um filme sobre o Iraque ganhe o prêmio mais importante da indústria cinematográfica norte-americana, porque é um filme onde a arte reflete a realidade e não uma mera criação e apreciação de um mundo fantástico. Nele é retratado uma história humana, de um mundo real.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A alimentação, o Estado e a busca pela dignidade moral.



Imagem 1: Restaurante em Beijing.
Fonte: Diogo Farias.



A alimentação e o Estado:

            “Você já comeu?” Esta era uma forma muito comum de cumprimento na China, prova de que a alimentação e todas as atividades ligadas a ela possuem uma posição extremamente importante na cultura chinesa. Estas atividades incluem a aquisição, a preparação, a apresentação e o consumo do alimento. Os textos clássicos que guiavam os governantes e letrados chineses defendiam a promoção do bem-estar social como meio de se organizar uma sociedade harmônica. Mengzi afirmava que o governante deveria prover as necessidades básicas ao seu povo para assegurar que a lei e a ordem prevalecessem. Sua principal tarefa era criar condições para que o seus súditos tivessem acesso a uma quantidade de comida suficiente para sua subsistência. O não cumprimento deste princípio poderia provocar revoltas, que, teoricamente, indicariam a perda do “Mandato Celeste” (Tianming), ameaçando a sobrevivência da dinastia vigente.

A alimentação desempenhou um papel vital na formação do conceito de identidade dos han e na simbologia do Estado chinês. Textos antigos demonstravam grande atenção na seleção, nas diversas formas de preparação do alimento e sua oferenda aos ancestrais. Aqueles que praticavam corretamente seus rituais eram considerados civilizados, quando não, eram identificados como bárbaros. Estes textos associavam a culinária à civilização e estabeleceram o caldeirão para cozinhar alimentos – o ding, um caldeirão de três pernas -, como o símbolo do Estado.

Os povos civilizados eram vistos como “cozidos” e os bárbaros como “crus”; características que distinguiam aqueles que comiam grãos e refinavam sua comida cozinhando através do fogo, daqueles que não comiam grãos e nem carne cozida. Esta distinção entre civilização e barbárie, tão clara ao associar práticas alimentares com questões de identidade, constituía uma espécie de versão chinesa do “você é o que come”, difundida até ao menos o final da dinastia Qing, quando o grau de civilidade das minorias do império ainda era avaliado através dos seus costumes alimentares.

 
Foto 2: Ding.
Fonte: www.asianart.com


A antiga visão chinesa de sua superioridade cultural também se baseava, na relativa sofisticação do seu sistema de governo em comparação aos povos vizinhos. Desta forma, a culinária servia como uma eficiente metáfora para o governo chinês. No século IV a.C. o texto daoísta Dao De Jing, atribuído a Laozi, afirmava que “governar o país é como cozinhar um peixe pequeno”, o que significava que o cuidado e a atenção eram extremamente essenciais em ambos os casos. As habilidades gastronômicas eram uma importante qualificação no apontamento para cargos no serviço público. Talvez o mais antigo relato desta prática ocorreu com Yi Yin, que no segundo milênio a.C., tornou-se o primeiro ministro do Rei Tang da dinastia Shang. De acordo com sua lenda, Yi Yin foi uma criança abandonada, cujos pais adotivos o ensinaram a cozinhar e suas habilidades na cozinha chamaram a atenção do rei. Yi Yin comparava o mundo a uma cozinha, na qual um bom governo deve preparar uma boa refeição. Na cozinha era necessário compreender os sabores para combiná-los de forma correta, na política era preciso perceber os sofrimentos e aspirações do povo, para satisfazer suas necessidades.

Yi Yin elaborou a teoria daquilo que seria a base da teoria culinária chinesa. Ele classificou os alimentos em diversas categorias para identificar a forma correta de sua preparação, a fim de retirar seu odor e produzir pratos apetitosos. Adicionavam-se condimentos para atingir um sabor balanceado que não fosse “excessivamente doce ou azedo, sendo levemente temperado, porém sem faltar sabor, utilizando sua gordura, sem ficar com a boca oleosa”. Muitas das categorias de Yi Yin ainda são utilizadas hoje.



A alimentação e a moral confuciana:

Uma da principais características da culinária chinesa é a sua variedade. O consumo da maioria dos ingredientes a disposição não era limitada por tabus religiosos, apesar da contribuição do Budismo para a difusão do vegetarianismo. Mesmo os mais humildes tinham acesso a diferentes tipos de alimentos. Com a expansão territorial, novos produtos tornaram-se disponíveis, sendo gradativamente incorporados à cultura alimentar chinesa, porém o povo ainda continuava a comer apenas o que era produzido localmente. Durante a Dinastia Song (960-1279), houve um grande aumento da produção agrícola junto ao desenvolvimento do comércio. O crescimento urbano aliado a estes fatores transformou a dieta chinesa, permitindo incluir alimentos vindos de outras regiões do Império e o desenvolvimento de um mercado de artigos luxuosos.

As conexões da China com outras partes do mundo, particularmente com a Ásia central e com o sudeste asiático, permitiram um intenso fluxo de produtos, que mais tarde incorporaram o repertório de possíveis ingredientes. Em alguns casos isto incluía itens exóticos, como ninho de pássaros, pepinos-do-mar e produtos do Novo Mundo como amendoim e batata doce. Os estrangeiros também influenciaram o gosto por certos tipos de alimentos, que poderiam ser produzidos em casa, como iogurte e outros derivados de leite, muito populares na Ásia Central. Alguns desses alimentos foram introduzidos por causa de razões políticas - muitos deles associados aos mongóis. A segunda característica da cultura alimentar chinesa é que a influência externa afetou sua culinária em todos os níveis e a “cozinha chinesa” mudava constantemente.

Finalmente, mas não menos importante, a dieta era ligada à saúde. Comer de forma correta, escolhendo os ingredientes certos e combinando-os de forma apropriada, era visto como o principal caminho para a boa saúde e longevidade. Esta visão proporcionou uma extensa literatura sobre nutrição e dietética, que estava ligada aos ideais de frugalidade, moderação e balanço.

O período entre os séculos V e III a.C. testemunhou uma revolução no pensamento chinês, havia uma falta de consenso se a natureza humana era originalmente boa ou má. Os pensadores chineses geralmente concordavam com a ideia de evolução através da devoção ao autodesenvolvimento do indivíduo, cujo último propósito era o alcance da perfeição, ou da sabedoria. Com o entendimento que tudo no cosmo estava interconectado, não havendo separação entre mente e corpo, o cuidado com este era tão importante quanto à busca pela excelência intelectual e espiritual. Mente e corpo não funcionam isolados e fazem parte de um mesmo organismo. O relacionamento entre alimentação e saúde derivou da teoria da interconectividade entre o mundo material e moral.

É fácil entender como a gastronomia, no sentido da compreensão das propriedades dos alimentos, de como atingir o equilíbrio perfeito e do caminho pelo prazer dos sabores, tornou-se tão importante para a autodesenvolvimento do individuo. Pensava-se que comer corretamente era essencial para o bem-estar físico, constituindo uma parte essencial do caminho para o cultivo da dignidade moral do ser humano. Essas considerações eram muito mais relevantes para os membros da elite letrada chinesa do que para a maioria das pessoas que viviam a beira do nível de subsistência, mas é claro que essas ideias exerciam influencia na cultura popular.

Os chineses não menosprezavam os prazeres da uma boa refeição, pelo contrário, a atitude ideal era a apreciação das qualidades do alimento e do trabalho de sua preparação. A gula era vista com desaprovação, mas as crenças chinesas não tinham um equivalente aos sete pecados capitais do Cristianismo. É claro que a frugalidade era uma virtude que nascia da necessidade, mas também constituía uma importante manifestação da preferência pelo balanço e contra o excesso em todas as maneiras. Uma série de pensadores, incluindo Confúcio (Kong Fuzi) e Mêncio (Meng Zi), enunciaram estes princípios, através dos ensinamentos dos reis sábios, onde uma pessoa só poderia comer quando tivesse fome e assim apenas saciar suas necessidades. Mêncio e outros filósofos criticavam governantes que desfrutavam fartos banquetes em seus palácios, enquanto lá fora, o povo vivia na miséria.

Contava-se que pessoas más geralmente eram gulosas ou causavam atos de maldade por causa da gula. Condenações à gula conviviam com o apreço da elite por hábitos que elevariam sua posição social, incluindo a alta gastronomia. Esta atitude tem suas origens na reafirmação ritual das distinções entre os grupos sociais, contribuindo para a gastronomia ser distinguida entre as artes atribuídas aos homens letrados, junto ao conhecimento da pintura e da poesia. Diversas pinturas e poemas abordavam a gastronomia como tema. O poeta do período Song, Su Dongpo (Su Shi, 1036-1101), frequentemente fazia referência aos prazeres da comida e foi homenagiado por uma prato, o Porco Dongpo.

Na China, o interesse pela alimentação ia além do conceito de subsistência, desempenhando um papel de destaque na vida cultural, social e política desta civilização. A alimentação foi fundamental para a construção da identidade han e dos fundamentos do Estado chinês. Entre a elite chinesa, o conhecimento da culinária era bem visto e estimulado, a apreciação da comida era distinta da mera avareza e este ato estava ligado à busca pela dignidade moral.

Mao Tsé-tung, Mao Zedong ou Mao Tsé-toung?

Foto: Cidade Proibida em Beijing.
Fonte: Diogo Farias.

Shi Huangdi e Ch'in Shih-huang são a mesma pessoa? O Tao te levará ao caminho certo? Conhece alguém que pratique taijiquan? Taibei é capital de qual país?

Estas podem parecer perguntas estranhas, mas são extremamente importantes. Já discutimos no post anterior a língua chinesa, agora iremos abordar a romanização da escrita chinesa. É comum ver pessoas confusas em relação a romanização dos termos e nomes chineses. Também é normal encontrar livros onde os mesmos nomes são escritos de maneiras diferentes.

A romanização do língua chinesa é utilizar o alfabeto latino para escrever o chinês. São três os principais sistemas de romanização: o Wade-Giles, o sistema da EFEO (École française d'Extrême-Orient) e o Hanyu Pinyin. Há o sistema da Yale, mas confesso que é muito difícil encontrá-lo.

O sistema Wade-Giles foi criado por Thomas Wade, antigo embaixador britânico na China e professor de chinês na Cambridge University. O sistema foi elaborado em meados do século XIX, entretanto foi revisado por Hebert Giles em 1912. O Wade-Giles é usado semi-oficialmente em Taiwan.

O sistema da EFEO foi usado até meados do século XX, na romanização do chinês para os falantes de francês (incluindo os países sob o domínio colonial francês). Foi criado por Séraphin Couvreur em 1902. Hoje este sistema tornou-se obsoleto, porém ainda é comum encontrá-lo, em artigos escritos por franceses. Como é possível perceber seu uso era muito restrito, mas eu trabalhei muito com este sistema de romanização, porque fiz praticamente toda a pesquisa da minha dissertação de mestrado na EFEO.

O Hanyu Pinyin é o sistema de romanização da língua chinesa mais usado atualmente. É utilizado na República Popular da China ( incluindo Hong Kong e Macau), partes de Taiwan, Malásia e Cingapura. Foi criado por um Comitê especial do Ministério da Educação da RPC em 1958. O pinyin foi adotado pela Organização Internacional para a Padronização (ISO) em 1982. Ou seja, para qualquer trabalho acadêmico deve-se utilizar o pinyin. Este sistema também é usado na aprendizagem do chinês, nele são transcritos os quatro tons do mandarim. Desta forma, Cantão em pinyin é Guǎngzhōu, porém nos textos em línguas ocidentais (com exceção de textos sobre a língua chinesa) pode-se escrever o pinyin sem a indicação dos tons, ficando apenas Guangzhou.

Para encerrarmos, a forma correta de escrever o nome do líder revolucionário chinês é Mao Zedong. Qin Shi Huangdi foi o primeiro imperador da Dinastia Qin, o tao em pinyin é dao e taijichuan é o mesmo que Tai Chi Chuan. Mas cuidado no caso da capital de Taiwan, convém utilizar o sistema Wade-Giles, que é o mais utilizado na ilha. Assim fica melhor Taipei do que Taibei.