terça-feira, 16 de março de 2010

Guerra ao Terror



Decidimos discutir sobre o filme Guerra ao Terror (Kathryn Bigelow, The Hurt Locker, 2008), apesar do atraso. Como quase todos devem saber, este filme relata os desafios diários vividos por um esquadrão antibombas americano em Bagdá. É impressionante como a camera de Bigelow consegue nos inserir dentro da atmosfera do conflito, através de sua condução em tom documental. Simplesmente você fica atónito, esperando pelo desfecho de cada cena.O grande eixo condutor do filme é William James (Jeremy Renner), um sargento substituto que demonstra um imenso prazer pelo combate e que coleciona as bombas que ele desermou. Mas o sargento também possui seu lado humano, que aparece nos momentos de descontração dentro do quartel e em sua relação com o menino iraquiano vendedor de DVDs piratas.

Trata-se de um filme extremamente bem feito, impecável nos aspectos técnicos. A diretora abordou o conflito de forma viceral, com o objetivo de oferecer uma experiência extremamente realista. Mas talvez este não seja o filme definitivo sobre a ocupação americana do Iraque. Sente-se falta do drama dos mais de cem mil iraquianos mortos (a grande maioria civis), cujos diálogos em árabe nem chegam a ser legendados.

Bigelow centra-se demais no drama vivido pelos soldados, deixando em segundo plano a situação do povo que sofreu com o regime de Saddam Hussein e com a guerra atual. Apesar de sua seriedade, o filme está distante de clássicos como Glória feita de sangue (Stanley Kubrick, Paths of Glory, 1957), Platoon (Oliver Stone, Platoon, 1986) e Apocalipse Now (Francis Ford Coppola, Apocalipse Now, 1979), onde o primeiro discute crimes de guerra cometidos pela aliança vencedora da Primeira Guerra Mundial. Platoon mostra a total alienação do soldado americano e a extrema violência decorrente desta. Por último, Apocalipse Now aborda a guerra como algo cruel, a ocupação francesa (num dos melhores diálogos da história do cinema, pelo menos para este blogueiro), o Mito e a natureza humana.

Apesar disto Guerra ao Terror tem o seu lugar marcado na história do cinema, pois é um filme sério, de cenas marcantes. Todo clássico tem que ter isso: momentos que não saem de nossas memórias, e talvez a cena em que o sargento William James se vê cercado por diversas bombas que devem ser desarmadas, seja a mais emblemática do filme.


Guerra ao Terror tem inúmeras qualidades, principalmente ao trabalhar com o clima de tensão psicológica vivido por pessoas inseridas num conflito bélico e suas diferentes reações. Mas é sutil em relação a guerra e a ocupação americana, aliás não foi surpresa nenhuma a Academia tê-lo premiado. Temos que lembrar que com Barack Obama como presidente, a opinião pública mundial está mais simpática aos americanos e seu governo, do que no passado recente. Só para ilustrar esse clima favorável, está sendo produzida uma versão cinematográfica do Capitão América, algo difícil de se imaginar enquanto Bush ocupava o cargo.

Apesar de seu clima mais ameno, Guerra ao Terror não chega a ser omisso e abre espaço para discussões sobre a ocupação americana e sua política internacional. É importante que um filme sobre o Iraque ganhe o prêmio mais importante da indústria cinematográfica norte-americana, porque é um filme onde a arte reflete a realidade e não uma mera criação e apreciação de um mundo fantástico. Nele é retratado uma história humana, de um mundo real.

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