quarta-feira, 14 de julho de 2010

O Xiismo no Irã Pós-Safávida

Um dos principais obstáculos das forças políticas centralizadoras no Irã pós-Safávida foi a posição de destaque dos religiosos xiitas, fato que teve reflexos na própria sociedade iraniana. Os xás Safávidas foram aceitos como representantes do Imã Oculto, sua autoridade religiosa conferia-lhes a legitimidade do poder temporal. Porém, após a queda dos Safávidas e a ascensão da dinastia Qajar, seus xás não assumiram a posição de representantes do Imã Oculto. Aqueles que se destacassem por sua piedade e conhecimento, seriam elevados ao estatuto de mujtahidin (no xiismo, legistas religiosos qualificados a enunciar interpretações pessoais), desta forma poderiam emitir juízos em matéria de direito e de prática religiosa; seriam os mais qualificados para exercer a ijtihad. Os mujtahidin argumentavam que a partir do momento em que os xás qajars se assumiram como governantes temporais, sua classe teria o direito exclusivo de prover interpretações em matérias da jurisprudência e das práticas religiosas. Os mujtahidin assumiram o estatuto de intérpretes legítimos da vontade do Imã Oculto, o qual concedia o direito ao exercício da ijtihad. A quantidade de mujtahiddin aumentou na primeira metade do século XIX, quando foram postos em prática dois conceitos: o primeiro era a ideia de que todos os crentes xiitas deviam ser vinculados a um mujtahiddin e aceitar suas diretivas; o segundo, baseou-se no fato de pareceres dos mujtahiddin vivos suplantarem todos os pareceres preexistentes. A aceitação destes postulados produziu a necessidade de aumentar o número dos mujtahiddin. Com a sua proliferação, alguns mujtahiddin detentores de uma maior capacidade de aprendizagem e de compreensão passaram a ser intitulados Marjad al-Taqlid (fonte de emulação) tornando-se as figuras proeminentes do clero xiita, que posteriormente adotariam o título de Ayatollah, o “olho de Deus”.

Além disso muitos mujtahiddin gozavam de autonomia econômica em relação ao xá. Funcionavam não apenas como juízes em litígios civis (casos criminais cabiam ao xá), mas também como cobradores de impostos, administradores de funções religiosas, mantenedores de mesquitas e escolas, distribuidores de esmolas etc.

Com a queda da dinastia Safávida e a subida ao poder dos novos governantes que não possuíam atributos divinos, a anterior associação estreita entte o clero xiita e o Estado extinguiu-se; daí que apoiados pelo povo, os mujtahiddin tornaram-se uma força poderosa de oposição às políticas dos futuros monarcas. A crescente da influência e poder dos mujtahiddin na sociedade iraniana evoluirá durante o século XX, culminando em seu papel preponderante na Revolução Islâmica de 1978 e na formação e condução da política, da jurisprudência e dos assuntos religiosos da República Islâmica do Irã.

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