sábado, 14 de agosto de 2010

Os Chineses Ultramarinos: conceitos

Imagem: A casa tradicional de um mercador chinês ultramarino geralmente possui dois pisos, o térreo corresponde à sua loja e o piso de cima encontra-se sua moradia (antigo bairro chinês de Hoi An, Vietnã)
Fonte: Diogo Farias

No estudo das comunidades chinesas do Sudeste Asiático, a primeira dificuldade é a ausência de palavras precisas, em mandarim, para definir os movimentos populacionais realizados pelo povo chinês. O termo qiao, que se associa à hua, não é neutro. Antes do Tratado de Tianjin (1888), designava a “residência temporária” de oficiais estrangeiros na China.


Atendendo a legislação de 1893, a expressão huaqiao estava reservada àqueles que estariam provisoriamente no estrangeiro. Entretanto, o termo huaqiao foi objeto de numerosas polêmicas, porque certos emigrados chineses não se consideravam mais como residentes temporários e sentiam-se cada vez menos ligados a China continental. Estes preferiam termos como huaren ( chineses que residem fora da China) e huayi (descendentes de chineses, que possuem uma identidade nacional diferente em comparação aos imigrantes chineses recém-chegados).


A expressão mais apropriada para os definir chineses que vivem fora da China é “chineses ultramarinos”, que abrange:

  • Os imigrantes temporários;

  • Nacionais chineses residentes no estrangeiro;

  • Os chineses naturalizados, mas cujo sentimento de pertencer ao mundo chinês continua forte;

  • Os chineses naturalizados mais ou menos assimilados em seu país atual.


Em 1980, a República Popular da China promulgou uma lei proibindo a dupla nacionalidade. Os descendentes de chineses que não tivessem exclusivamente um passaporte de Beijing, não poderiam ser considerados cidadãos chineses.


A imigração chinesa é realizada por indivíduos que compartilham a mesma língua, escrita, cultura e a consciência de uma identidade própria. Entretanto, estes são provenientes de grupos geolinguísticos extremamente variados. A tradição chinesa tem origem na civilização Han, que se desenvolveu nas planícies centrais da China atual, absorvendo povos estrangeiros considerados como sinobárbaros.


As populações do vale do Rio Yangzi (Chang Jiang) foram assimiladas e integradas, pela civilização Han. O “Império Histórico” era muito menor do que a “China” que conhecemos hoje. A migração seguida pela colonização extendeu a área do povoamento, da cultura e do poder político chinês; além do seu ponto de partida original. O mundo chinês cresceu com a absorção de novos territórios e pela sinização dos seus habitantes nativos.


Somente a partir da Dinastia Tang (618-907), a etnia Han começou instalar-se realmente no sul da China. Esta dinastia empreendeu de forma massiva a colonização do Guangdong, nos séculos VIII e X. Durante a Dinastia Song (960-1368), os han chegaram em números consideráveis ao Fujian e somente no século XI, em Hainan.


Os chineses não resistiram aos ataques e a influência dos “bárbaros” turco-mongóis ao norte e a oeste, e dos “bárbaros” do sul, os yue. A primeira consequência, foi uma incrível fragmentação social do sul da China, que diferenciou muito os chineses meridionais dos setentrionais. A principal diferença reside no poder da estrutura de linhagem e clânica, e nos diversos estilos de organizações associativas. Estas particularidades consequentemente são sensíveis em todas as práticas sociais e religiosas.


A expressão mais marcante dos particularismos, entre as diferentes comunidades chinesas ultramarinas, origina da diversidade linguística do sul da China. Dezenas de dialetos, não compreensíveis entre si, coabitam em vilas próximas uma das outras. A China esta dividida em três grupos linguísticos principais: o grupo do Norte (mandarim e seus derivados), o grupo do Sul (yue, min, kejia) e um grupo intermediário, o wu de Shanghai.


A língua é o primeiro elemento constituinte da identidade do chinês ultramarino. O nome de sua vila, a província de origem ou a zona onde é falado o dialeto de seus pais, são as suas principais formas de identificação. As diferenças linguísticas entre as diversas populações que compõem as comunidades chinesas do Sueste Asiático são relevantes. Muitos chineses ultramarinos não se compreendem entre si, mesmo compartilhando a mesma escrita.


Para complicar, pessoas aparentemente do mesmo grupo linguístico, não compartilham necessariamente a mesma identidade cultural. Os chineses do Fujian (Hokkien), falantes do minnan (Quanzhou e Zhangzhou), são incapazes de compreender os moradores de Chaozhou (Teochiu), que falam um dialeto derivado do minnan.


Os chineses ultramarinos procuram emigrar para áreas onde possam encontrar pessoas com costumes semelhantes, assim as comunidades ultramarinas são marcadas por uma forte afinidade linguística (hokkien com hokkien, teochiu com teochiu, hakkas com hakkas).


A língua mais falada na China, é o mandarim. Hoje, muitos chineses ultramarinos preferem estudar o mandarim, em vez das línguas faladas pelos seus ancestrais. Este novo fenômeno, deve-se à busca de melhores oportunidades profissionais, concedidas aos falantes do mandarim.


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